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DE FEVEREIRO DE 2015
OS
OLIGOPÓLIOS
DOS
CANALHAS
Relegamos o exercício pleno da cidadania a um terceiro,
quarto plano em nossas vidas. Terceirizamos,
também, a cidadania.
Abandonamos a política.
Relegamos o exercício pleno da cidadania a um terceiro, quarto
plano em nossas vidas. Terceirizamos, também, a cidadania.
E eles, os canalhas, sorrateiramente, ocuparam esse vasto vazio
e omissão.
Já dominam o Congresso – a Câmara e o Senado. Dominam também as
Câmaras Municipais e Assembleias Legislativas.
Um político canalha, do tipo "celebridade midiática",
consegue eleger-se deputado federal com um milhão e meio de votos e leva com
ele, para a Câmara dos Deputados, mais três ou quatro desqualificados, canalhas
como ele.
Políticos nanicos de partidos nanicos, compostos por homens nanicos.
A quem representam essas Vossas Excelências? Ou seria mais
apropriado dizer "Vossas Excrescências"?
Mas ficamos mais ou menos tranquilos e impávidos. Afinal, a
culpa não é nossa; a culpa é sempre "deles".
A culpa é sempre do
outro, distante, incerto, improvável.
A reforma política, reivindicada pelas multidões nas
"jornadas de junho" [de 2013] , pelos "revolucionários do
Facebook", é apenas um desejo e uma miragem distante; para sempre adiada,
para sempre postergada. Para júbilo e paz dos canalhas.
Eles, os canalhas, dominam os grandes grupos de comunicação.
Eles têm seus capatazes e capachos na grande mídia remunerados a peso de ouro.
Corteses, elegem a dedo a sua corte fiel.
Quem não reconhece os cortesãos e cortesãs que, de modo
desavergonhado, na maior desfaçatez, como se virtuosos fossem, exibem, sem a
mínima decência ou pudor, as suas vergonhas, vilanias, hipocrisia e sabujice
nas páginas da Folha, do Estadão, da Veja, do(a) Globo – só para citar os veículos
das principais familias?
Eles, os canalhas, controlam também boa parte dos sindicatos e
das centrais sindicais – ainda exercem, com estarrecedora desenvoltura, o velho
e anacrônico sindicalismo de negócios, negociatas e, claro, resultados.
Eles dominam também as grandes empresas e empreiteiras, as
empresas públicas, autarquias e fundações.
Os canalhas quase arruinaram a Petrobras!
O metrô de São Paulo!
O Estado de São Paulo!
Sim, os canalhas estão em São Paulo, em Brasília. No Rio de
Janeiro, em Goiás. No Maranhão, Alagoas ou Bahia.
No partido "X",
"Y" e "Z". Os canalhas, tal qual uma praga, estão
espalhados por todo o país.
A pretexto de arrecadar recursos não contabilizados para os
partidos, fazem fortuna extorquindo empresários corruptos e honestos, seduzindo
e corrompendo funcionários públicos de carreira com promessas de altos cargos,
prêmios e salários, muita "camaradagem" e compadrio, muito bem
remunerados.
Os canalhas fazem parte daquele 1% da população que detém mais
de 90% da riqueza da nação.
Os canalhas são poucos, mas parecem multidão.
Mas a multidão, de fato e que realmente importa, constituída de
indivíduos ordeiros e honestos, enche, nas madrugadas insones, ônibus, metrôs e
trens superfaturados, sucateados, "humilhantes", pois superlotados e
desumanamente desconfortáveis, e segue obediente para fazer girar a roda que
faz a fortuna dos canalhas.
O suor, sangue e lágrimas de homens e mulheres humildes, homens
e mulheres do povo, moradores das periferias das grandes cidades, crentes e
obedientes a Deus, e tementes a patrões exploradores, azeitam as engrenagens da
máquina.
Pobres cordeiros dopados tangidos pelos canalhas, adestrados pela
submissão da desesperança, da ignorância e do medo.
Mais valia.
Mais valia que a esperança e a coragem, de uma nova e insurgente
elite proletária, por fim se libertasse das amarras da fé e das mentiras dos
políticos, e de alguns pastores, nas religiões e na grande imprensa, que
castram, ferram a fogo, adestram e tangem as multidões de cordeiros dopados
rumo ao abate de uma vida infeliz e sem sentido.
Mais valia que a esperança, por fim, vencesse o medo e nos
abençoasse com as láureas e os lucros de mais justiça social e fé em nós
mesmos; fé no homem comum.
Mas valia o império dos justos e dos honestos, unidos numa
utópica cooperativa, do que os oligopólios e feudos dos canalhas.
Mais valia.
SOBRE O AUTOR
*Lula Miranda
Poeta, cronista e economista. Publica artigos em veículos da chamada imprensa alternativa, tais como Carta Maior, Caros Amigos, Observatório da Imprensa e Fazendo Média