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3 DE FEVEREIRO DE 2015
AOS CANALHAS
QUE QUEREM
DESTRUIR
A PETROBRAS
O jornalista Mauro Santayanna, um dos mais
experientes do País, publicou um importante artigo sobre a campanha de
desmoralização da Petrobras; "É preciso tomar cuidado com a desconstrução
artificial, rasteira, e odiosa, da Petrobras e com a especulação com suas
potenciais perdas no âmbito da corrupção, especulação esta que não é apenas
econômica, mas também política", alerta; "A Petrobras não é apenas
uma empresa. Ela é uma Nação. Um conceito. Uma bandeira. E por isso, seu valor
é tão grande, incomensurável, insubstituível", afirma; "Esta é a
crença que impulsiona os que a defendem. E, sem dúvida alguma, também, a abjeta
motivação que está por trás dos canalhas que pretendem destruí-la"; leia a
íntegra de um texto antológico
Por
Mauro Santayanna
O adiamento do balanço da
Petrobras do terceiro trimestre do ano passado foi um equívoco estratégico da
direção da companhia, cada vez mais vulnerável à pressão que vem recebendo de
todos os lados, que deveria, desde o início do processo, ter afirmado que só
faria a baixa contábil dos eventuais prejuízos com a corrupção, depois que eles
tivessem, um a um, sua apuração concluída, com o avanço das investigações.
A divulgação do balanço há
poucos dias, sem números que não deveriam ter sido prometidos, levou a nova
queda no preço das ações.
E, naturalmente, a novas
reações iradas e estapafúrdias, com mais especulação sobre qual seria o valor —
subjetivo, sujeito a flutuação, como o de toda empresa de capital aberto
presente em bolsa — da Petrobras, e o aumento dos ataques por parte dos que
pretendem aproveitar o que está ocorrendo para destruir a empresa — incluindo
hienas de outros países, vide as últimas idiotices do Financial Times –
que adorariam estraçalhar e dividir, entre baba e dentes, os eventuais despojos
de uma das maiores empresas petrolíferas do mundo.
O que importa mais na Petrobras?
O valor das ações, espremido
também por uma campanha que vai muito além da intenção de sanear a empresa e
combater eventuais casos de corrupção e que inclui de apelos, nas redes sociais,
para que consumidores deixem de abastecer seus carros nos postos BR; à aberta
torcida para que “ela quebre, para acabar com o governo”; ou para que seja
privatizada, de preferência, com a entrega de seu controle para estrangeiros,
para que se possa — como afirmou um internauta — “pagar um real por litro de
gasolina, como nos EUA”?
Para quem investe em bolsa, o
valor da Petrobras se mede em dólares, ou em reais, pela cotação do momento, e
muitos especuladores estão fazendo fortunas, dentro e fora do Brasil, da noite
para o dia, com a flutuação dos títulos derivada, também, da campanha
antinacional em curso, refletida no clima de “terrorismo” e no desejo de “jogar
gasolina na fogueira”, que tomou conta dos espaços mais conservadores — para
não dizer golpistas, fascistas, até mesmo por conivência — da internet.
Para os patriotas, e ainda os
há, graças a Deus, o que importa mais, na Petrobras, é seu valor intrínseco,
simbólico, permanente, e intangível, e o seu papel estratégico para o
desenvolvimento e o fortalecimento do Brasil.
Quanto vale a luta, a coragem,
a determinação, daqueles que, em nossa geração, foram para as ruas e para a
prisão, e apanharam de cassetete e bombas de gás, para exigir a criação de uma
empresa nacional voltada para a exploração de uma das maiores riquezas
econômicas e estratégicas da época, em um momento em que todos diziam que não
havia petróleo no Brasil, e que, se houvesse, não teríamos, atrasados e
subdesenvolvidos que “somos”, condições técnicas de explorá-lo?
Quanto vale a formação, ao
longo de décadas, de uma equipe de 86.000 funcionários, trabalhadores, técnicos
e engenheiros, em um dos segmentos mais complexos da atuação humana?
Quanto vale a luta, o trabalho,
a coragem, a determinação daqueles, que, não tendo achado petróleo em grande
quantidade em terra, foram buscá-lo no mar, batendo sucessivos recordes de
poços mais profundos do planeta; criaram soluções, “know-how”, conhecimento;
transformaram a Petrobras na primeira referência no campo da exploração de
petróleo a centenas, milhares de metros de profundidade; a dezenas, centenas de
quilômetros da costa; e na mais premiada empresa da história da OTC – Offshore
Technology Conferences, o “Oscar” tecnológico da exploração de petróleo em alto
mar, que se realiza a cada dois anos, na cidade de Houston, no Texas, nos
Estados Unidos?
Quanto vale a luta, a coragem,
a determinação, daqueles que, ao longo da história da maior empresa brasileira
— condição que ultrapassa em muito, seu eventual valor de “mercado” —
enfrentaram todas as ameaças à sua desnacionalização, incluindo a ignominiosa
tentativa de alterar seu nome, retirando-lhe a condição de brasileira,
mudando-o para “Petrobrax”, durante a tragédia privatista e “entreguista” dos
anos 1990?
Quanto vale uma companhia
presente em 17 países, que provou o seu valor, na descoberta e exploração de
óleo e gás, dos campos do Oriente Médio ao Mar Cáspio, da costa africana às
águas norte-americanas do Golfo do México?
Quanto vale uma empresa que
reuniu à sua volta, no Brasil, uma das maiores estruturas do mundo em Pesquisa
e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, trazendo para cá os principais
laboratórios, fora de seus países de origem, de algumas das mais avançadas empresas
do planeta?
Por que enquanto virou moda —
nas redes sociais e fora da internet — mostrar desprezo, ódio e descrédito pela
Petrobras, as mais importantes empresas mundiais de tecnologia seguem
acreditando nela, e querem desenvolver e desbravar, junto com a maior empresa
brasileira, as novas fronteiras da tecnologia de exploração de óleo e gás em
águas profundas?
Por que em novembro de 2014, há
apenas pouco mais de três meses, portanto, a General Electric inaugurou, no Rio
de Janeiro, com um investimento de 1 bilhão de reais, o seu Centro Global de
Inovação, junto a outras empresas que já trouxeram seus principais laboratórios
para perto da Petrobras, como a BG, a Schlumberger, a Halliburton, a FMC,
aSiemens, a Baker Hughes, a Tenaris Confab, a EMC2 a V&M e a Statoil?
Quanto vale o fato de a
Petrobras ser a maior empresa da América Latina, e a de maior lucro em 2013 —
mais de 10 bilhões de dólares — enquanto a PEMEX mexicana, por exemplo, teve um
prejuízo de mais de 12 bilhões de dólares no mesmo período?
Quanto vale o fato de a
Petrobras ter ultrapassado, no terceiro trimestre de 2014, a EXXON
norte-americana como a maior produtora de petróleo do mundo, entre as maiores
companhias petrolíferas mundiais de capital aberto?
É preciso tomar cuidado com a
desconstrução artificial, rasteira, e odiosa, da Petrobras e com a especulação
com suas potenciais perdas no âmbito da corrupção, especulação esta que não é
apenas econômica, mas também política.
A PETROBRAS teve um faturamento
de 305 bilhões de reais em 2013, investe mais de 100 bilhões de reais por ano,
opera uma frota de 326 navios, tem 35.000 quilômetros de dutos, mais de 17
bilhões de barris em reservas, 15 refinarias e 134 plataformas de produção de
gás e de petróleo.
É óbvio que uma empresa de
energia com essa dimensão e complexidade, que, além dessas áreas, atua também
com termoeletricidade, biodiesel, fertilizantes e etanol, só poderia lançar em
balanço eventuais prejuízos com o desvio de recursos por corrupção, à medida
que esses desvios ou prejuízos fossem “quantificados” sem sombra de dúvida,
para depois ser — como diz o “mercado” — “precificados”, um por um, e não por
atacado, com números aleatórios, multiplicados até quase o infinito, como tem
ocorrido até agora.
As cifras estratosféricas (de
10 a dezenas de bilhões de reais), que contrastam com o dinheiro efetivamente
descoberto e desviado para o exterior até agora, e enchem a boca de
“analistas”, ao falar dos prejuízos, sem citar fatos ou documentos que as
justifiquem, lembram o caso do “Mensalão”.
Naquela época, adversários dos
envolvidos cansaram-se de repetir, na imprensa e fora dela, ao longo de meses a
fio, tratar-se a denúncia de Roberto Jefferson, depois de ter um apaniguado
filmado roubando nos Correios, de o “maior escândalo da história da República”,
bordão esse que voltou a ser utilizado maciçamente, agora, no caso da Petrobras.
Em dezembro de 2014, um estudo
feito pelo instituto Avante Brasil, que, com certeza não defende a “situação”,
levantou os 31 maiores escândalos de corrupção dos últimos 20 anos.
Nesse estudo, o “mensalão” — o
nacional, não o “mineiro” — acabou ficando em décimo-oitavo lugar no ranking,
tendo envolvido menos da metade dos recursos do “trensalão” tucano de São Paulo
e uma parcela duzentas menor que a cifra relacionada ao escândalo do Banestado,
ocorrido durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso, que, em primeiríssimo
lugar, envolveu, segundo o levantamento, em valores atualizados,
aproximadamente 60 bilhões de reais.
E ninguém, absolutamente
ninguém, que dizia ser o mensalão o maior dos escândalos da história do Brasil,
tomou a iniciativa de tocar, sequer, no tema — apesar do “doleiro” do caso
Petrobras, Alberto Youssef, ser o mesmo do caso Banestado — até agora.
Os problemas derivados da queda
da cotação do preço internacional do petróleo não são de responsabilidade da
Petrobras e afetam igualmente suas principais concorrentes.
Eles advém da decisão tomada
pela Arábia Saudita de tentar quebrar a indústria de extração de óleo de xisto
nos Estados Unidos, aumentando a oferta saudita e diminuindo a cotação do
produto no mercado global.
Como o petróleo extraído pela
Petrobras destina-se à produção de combustíveis para o próprio mercado
brasileiro, que deve aumentar com a entrada em produção de novas refinarias,
como a Abreu e Lima; ou para a “troca” por petróleo de outra graduação, com
outros países, a empresa deverá ser menos prejudicada por esse processo.
A produção de petróleo da
companhia está aumentando, e também as descobertas, que já somam várias depois
da eclosão do escândalo.
E, mesmo que houvesse prejuízo
— e não há — na extração de petróleo do pré-sal, que já passa de 500.000 barris
por dia, ainda assim valeria a pena para o país, pelo efeito multiplicador das
atividades da empresa, que garante, com a política de conteúdo nacional mínimo,
milhares de empregos qualificados na construção naval, na indústria de
equipamentos, na siderurgia, na metalurgia, na tecnologia.
A Petrobras foi, é e será, com
todos os seus problemas, um instrumento de fundamental importância estratégica
para o desenvolvimento nacional, e especialmente para os estados onde tem maior
atuação, como é o caso do Rio de Janeiro.
Em vez de acabar com ela, como
muitos gostariam, o que o Brasil precisaria é ter duas, três, quatro, cinco
Petrobras.
É necessário punir os ladrões
que a assaltaram?
Ninguém duvida disso.
Mas é preciso lembrar, também,
uma verdade cristalina.
A Petrobras não é apenas uma
empresa.
Ela é uma Nação.
Um conceito.
Uma bandeira.
E por isso, seu valor é tão
grande, incomensurável, insubstituível.
Esta é a crença que impulsiona
os que a defendem.
E, sem dúvida alguma, também, a
abjeta motivação que está
por trás dos canalhas que pretendem destruí-la.