FCO.LAMBERTO FONTES
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7 de Dezembro de 2017
O
falso moralismo
do
juiz
pança-cheia
O
país se vê assaltado, neste fim de ano, de recomendações políticas
inapropriadas daquele que deveria evitar a política partidária e se concentrar
na interpretação equidistante, imparcial e equilibrada das leis. Sérgio Moro, o
juiz de sempre.
Viaja a nossas custas
para cima e para baixo, mexe e se remexe, para proselitar contra os legítimos
interesses da maioria da população. Ganha, para isso, fartas diárias, prêmios,
sem contar que deixa de jurisdicionar e ganha subsídios muito acima do razoável
para uma massa de brasileiras e brasileiros cada vez mais desprovida de meios e
de direitos.
Do alto da cadeia
alimentar do serviço público ousa dar lições de sua gorda, empanzinada moral
para os que nada têm: "repensem em quem vocês vão votar!",
prelecionou, mesmo metido em controvérsias sobre o papel que exercia o amigo do
peito em negociação milionária de delação mais que premiada junto a sua vara.
Não bastasse a
advertência ao eleitor, claramente destinada a refrear o maciço apoio que Lula
vem mostrando nas pesquisas de voto, o Sr. Moro ainda tem o desplante de pedir
de público ao Sr. Michel Temer, aquele que chama de presidente, que use seu
cargo para pressionar o Supremo Tribunal Federal para que não reveja sua
equivocada jurisprudência sobre a execução provisória da pena após o duplo grau
de jurisdição.
Não se enxerga.
Pretende
que a mais alta corte do país receba pressões do chefete do executivo para
satisfazer seu discurso moralista punitivista. Se o Sr. Temer se arvorasse a
atender o esdrúxulo pedido, estaria, tout court, cometendo mais um grave
ilícito para sua coleção. Afinal, atentaria descaradamente contra a
independência dos poderes, o que implica crime de responsabilidade. E o Sr.
Moro entraria junto, por instigação à prática do crime.
Na sua cegueira, não
consegue o juizinho de província disfarçar seu profundo mal-estar com o sucesso
de Lula, que, como governante, mais mudou o quadro de exclusão social no país.
Deve ter se contorcido de bronca ao saber, pelo DataFolha, que seu índice de
rejeição foi para as nuvens, prestes a superar ao daquele que elegeu seu
réu-inimigo.
Mudar a jurisprudência, deve pensar, pode frustrar seu intento de
tornar Lula inelegível e de encarcerá-lo aos aplausos de seu público fascista
iludido.
Moro se tornou, com seu
moralismo punitivista, a principal fonte do ódio político que se disseminou na
sociedade. Um juiz que, ao invés de pacificar conflitos, os acirra e direciona
contra seu inimigo eleito.
Falar em imparcialidade desse indivíduo seria piada
de mau gosto, pois a cada discursinho mequetrefe pelos palcos da direita
política mundo afora, faz questão de pré-julgar e conjecturar sobre feitos por
decidir.
Adora ingressar na seara reservada à política, para desfiar suas
opiniões de lege ferenda sobre o que pretende serem debilidades sistêmicas para
o "combate à corrupção", sua obstinação compulsiva.
O Sr. Moro, ao se lançar
sem trégua contra o réu que elegeu ser seu inimigo, se tornou cego para o
estrago que causou à paisagem econômica e social do Brasil.
A quebradeira da
indústria naval, da construção civil, da produção petrolífera com tecnologia
nacional, do esforço de criar capacidades próprias na energia nuclear – tudo
isso causado pela falta de estratégia de sua gana persecutória. Sem contar o
impacto direto dessa lambança na fiscalidade estadual. É só ver a deterioração
das finanças do Rio de Janeiro para se ter uma ideia sobre os efeitos
desastrosos dessa quebradeira.
Mas quem sofre os
efeitos da irresponsabilidade do judiciário que jurisdiciona implacavelmente
contra um inimigo é quem está na ponta da processo produtivo: os empregados da
indústria quebrada, agora massivamente desempregados, sem condições de prover
as necessidades básicas de sua família; os funcionários estaduais que deixam de
receber seus pagamentos; os sistemas de saúde e de educação pública, que sofrem
forte desinvestimento por conta da falta de receitas para sua manutenção – e
por aí vai.
Isso tudo, porém, não
mexe com a gordice dos ganhos do juiz de piso, que lava suas mãos a jato.
Para
ele, a preservação da moral justifica toda essa destruição. A moral do Sr. Moro
tem, assim, um custo duplo: o da destruição que causou e os gastos com sua
autopromoção. Mas tudo isso, na sua moral, está justificado e que se dane a
fome alheia.
Por isso, não se
envergonha em pedir aos desempregados e aos servidores sem pagamento que pensem
bem em quem vão votar. Devem esquecer sua fome e lutar por sua moral. Por isso,
também, que pede ao Sr. Temer que impeça que o Supremo reveja sua
jurisprudência; os direitos devem ceder ao seu "combate à corrupção":
uma guerra total em que nada é mais importante que sua bem remunerada
"missão".
Fica o aviso: o aumento
significativo de sua rejeição nas pesquisas de opinião é fruto dessa alienação.
E a tendência é ascendente. Talvez ainda haja tempo de repensar sua ação e
controlar seu ego, tempo para aprender a lição de Bertolt Brecht, que Lula
sabiamente praticou e que o juiz insiste em ignorar:
"Erst kommt das
Fressen, dann die Moral"
– primeiro vem o rango, depois a moral
– esta lhe
veste como uma luva!